Escrevo pra te ter por
perto.
É somente isso.
Por saber que em algum
lugar
– não sei ao certo onde,
talvez do meio do mar –
buscarás por mim com os
olhos de tua alma cega,
todo os dias.
Em tempos modernos,
leituras diárias e obrigatórias
são as chamadas do jornal
on line, a caixa de mensagens,
o twitter, o site de
compras em promoção.
Os meus escritos não se
encontram
entre as opções
recomendadas pelos especialistas,
para uma boa administração
do tempo e da vida.
Estariam na classificação das
futilidades.
Mas sei que tens,
silencioso e furtivo,
mais um item essencial
em tua rotina diária: o
Meu Jardim.
Perde-te nele,
escondendo-se dos
especialistas e consultores.
Se eles descobrem que
gastas tempo assim, comigo...
Buscas diariamente por mim
– eu pressinto.
Interpretas imagens,
observa a mudança das cores,
a nitidez das letras,
remoendo as palavras
na ânsia de extrair-lhes
as informações que precisas
para saber de mim.
Sei que esperas que delas
saia algum cheiro ou umidade,
que te façam rememorar as
lembranças doces
de nossa sobrevida em
comum.
Franzirás a testa, em
surpresa,
quando souberes de mim,
atualmente.
Perto de ti, jamais teria
coragem! Não me permitiria.
Mas assim ... solta...
posso tudo!
Não há porque me poupar
dos riscos, da adrenalina
e dos efeitos do cio.
Sou só eu. Me jogo.
Percorres o meu jardim
todo.
E eu, furtiva, te
observando
por trás das gérberas
vermelhas
do jardim de
delícias
(é que são as minhas
preferidas).
Quero correr o olhar sobre
ti diversas vezes
De cima a baixo, de cima a
baixo,
Com a pressa de quem tem
fome
e escorre em gotas densas.
Se me perceberes a
presença,
ah, aí me exibirei,
com a pouca roupa que me
reste,
em passos de gazela,
jogando os cabelos para o lado
simulando displicência
disfarçando a
orquestração
de minhas atitudes
programadas e sedutoras,
feitas para te causar
espasmos.
Ah, os odores...
Exaustivos ensaios para o
caso de te olhar nos olhos.
Mirar-te-ei fixo - é o
combinado.
Mas a ave de rapina que
não come há dias
vai me denunciar e te
mostrar as marcas,
aquelas dos pulsos, que só
você conhece.
As que se escondem
entre as pedras e miçangas
que me adornam.
Venho escrevendo para te
ter por perto
Uma sherazade dos tempos
modernos,
de jeans e lap top na
mochila.
É o visual que me cai bem,
(embora a profissão e a
idade queiram me impor outro).
Sei do teu encanto pelo
que sai dos meus lábios
e das pontas dos meus
dedos.
Então, despudorada, me
exibo em palavras.
Escrevo para que me sinta
latente em tuas veias grossas,
as que alimentam os teus
braços
cujo calor e a firmeza me
encantam sempre que te vejo.
Palavras saindo em fluxo
de violenta pressão,
porque tenho urgência de
ti.
Escrevo para que me sinta
quente e úmida em tuas mãos
Acostumei assim, a não
poder, a todo momento,
te encher dos beijos
e da pressão da minha
boca, nos pontos certos.
Acostumei assim,
a te encher de letras e
palavras roucas em grafite,
ou de letras de forma
pontiaguda no computador,
como flechas.
Há tempos que os meus
beijos
são os de batom púrpura em
papel de escritório,
marcando o fim do que te
escrevo
Nunca chegarão a tuas
mãos, como, de fato, seus.
Uso em meu favor o
benefício da dúvida:
a publicação.
Em versos, há a desculpa
do personagem,
de que se trata de ficção.
E me divirto em saber que
isso te atordoa.
Uma mulher má...
Abaixo, sempre
assinado
em discreta caneta preta:
A Sua.
Copyright © 2009 by Rita
de Cássia Tenório Mendoça
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