Há
uma ideia do amor exclusivo. Como se houvesse uma única chance na
vida de amar. Ou é o amor eterno, ou era mentiroso. Ou acontece pela
vida inteira, ou não funcionou.
E,
quando acertamos um casamento, as opções anteriores são
consideradas falsas – necessitamos apagar o passado. E, quando
erramos um casamento, as opções anteriores são vistas como
legítimas – desperdiçamos romances melhores.
Trata-se
de uma visão limitada, de contar apenas com um endereço para o
nosso coração.
Mas
amor é cigano, amor é mambembe, amor é viageiro.
Mas
amor é tentativa, amor é insistência, amor é rascunho, amor é
esboço, amor é esgotar as possibilidades e se recriar diante delas.
Só
porque você amou antes, não significa que não pode amar de novo.
Ou, só porque você amou antes, não significa que o próximo amor é
falso e está fingindo.
Só
porque você se declarou a alguém, isso não compromete as próximas
declarações.
Só
porque você disse que era para sempre e terminou, não quer dizer
que é um fingido.
Todos
os amores podem ser verdadeiros. Todos podem ser influentes.
Haverá
um maior, sim, um amor decisivo, um amor transformador, um amor real,
honesto e justo: o Amor Amor.
O
Amor Amor não é egoísta, não vai isolá-lo da convivência. Você
se duplicará para os próximos. Passará a amar os amigos como
nunca. Passará a amar a família como nunca. É tanto amor, que
sobrará para muitos.
O
que deve prevalecer no temperamento é não desistir, não se
entregar para o ressentimento, não defender os sentimentos parados
condenando os outros que permanecem em movimento.
Eu
acredito que quem casa ou namora várias vezes não é carente. Quem
casa e namora várias vezes não é desesperado. Está se moldando à
alegria, a superar as diferenças, a se separar, a recomeçar, a
sangrar sozinho, a entender as dores e as imperfeições. Apresenta
mais chance de ser feliz. Pois a felicidade é maleável, é macia, é
elástica. A felicidade é feita para quem tem coragem de sofrer.
Desesperado
e carente é aquele que não tenta e vive reclamando, praguejando,
amaldiçoando os demais. Desesperado e carente é aquele que se
esconde tão bem, que não se encontra e não se dá de verdade.
Desesperado
e carente é aquele que não namora ou não casa para não ter que
trabalhar emocionalmente e não se decepcionar. Alimenta-se de
sombras, de sobras, de rancores.
Amor
não é uma vez, são várias vezes até encontrar a pessoa
predileta. A pessoa necessária. A pessoa fundamental. A pessoa que
supera sua idealização, que lhe devolve a vontade de atravessar
suas idades e tempos.
Daí,
você descansa por estar andando, como diz minha mãe.
Amor
é descansar em estar andando. E andar de mãos dadas jamais cansa.
Publicado
no jornal Zero HoraColuna semanal, p. 2, 08/10/2013Porto Alegre
(RS), Edição N° 17577
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