Na
cotidianidade das práticas educativas,
duas posturas modulares podem ser encontradas naqueles que as
conduzem: os que assumem o predomínio das características do papel
de professores
instrutores e
os que se comprometem primordialmente com os propósitos
de professores
educadores.
São
bastante relevantes e demarcadoras as diferenças entre as duas
posturas. Os que “vestem a camisa” de professores instrutores
assumem os encargos do papel de treinadores que viabilizam a profissionalização dos
indivíduos mediante conteúdos e técnicas estabelecidas de cunho
funcional e pragmático. Desse modo, o que é prioritário é a
instrução para os papéis sociais, para o domínio dos saberes
técnicos e instrumentais que tendem a conformar e adaptar esses
indivíduos aos padrões socialmente instituídos.
Os
que abraçam a tarefa de professores educadores nas práticas
educativas as realizam como experiências de natureza
teórico-vivencial que se nutrem com os saberes instituídos, mas
procuram, cotidianamente, recriá-los e ressignificá-los
contextualmente buscando atingir os caminhos mais vastos da
sabedoria. Desse modo, as práticas educativas vislumbram muito mais
que a mera instrução para os papéis e funções sociais, elas
conduzem os indivíduos para a formação da inteireza do ser
entrelaçando razão e intuição, corpo/emoção e mente/espírito.
O
professor instrutor cumpre obrigações. O professor educador celebra
paixões. O professor instrutor superestima o quantitativo,
instrumentaliza para o ter que tende à coisificação e a
mercadejação do humano. O professor educador realça a busca do
qualitativo, da globalidade do ser, da dignidade e da beleza humana;
conduz à vocação, à voz do coração.
O
professor instrutor assume a função de mero transmissor e
reprodutor dos saberes instituídos submetendo os indivíduos aos
ditames estabelecidos, ao adestramento e à domesticação. O
professor educador passa pelo já instituído e busca instituir novos
saberes e sentires procurando rasgar os papéis e as máscaras que
empacotam e escondem, instigando a autenticidade, o espírito criador
e transgressivo.
O
professor instrutor repete todo dia os mesmos cacoetes e recursos
metodológicos na cadência decadente das rotinas emboloradas e
desencantantes. O professor educador reinventa permanentemente seus
procedimentos, renovando-se e reencantando-se com o aprendizado vigoroso
de cada experiência vivida. O professor instrutor considera-se
detentor do saber, pretensamente pronto e acabado. O professor
educador concebe-se aprendiz inacabado nos fluxos do cotidiano.
O
professor instrutor circunscreve-se na geometria do tempo linear do
chronos. O professor educador descortina-se pelas curvas do tempo
dinâmico do kairós. O professor instrutor dá aulas previsíveis,
insípidas e frias. O professor educador tece aulas imprevisíveis,
abertas ao fluxo das aventuras, ruminando o saber com sabor,
convertendo-as em vivências vívidas e encantantes; em constantes
ritos de iniciação e de renovação dos pensares e sentires. O
professor instrutor percorre os caminhos já feitos do ordinário,
mais fáceis e cômodos. O professor educador ousa as veredas ainda
não trilhadas, mais desafiantes e difíceis, inaugurando caminhos
novos, extraordinários.
O
professor instrutor tende a reduzir as salas de aula em “selas de
aula” aprisionantes e cinzentas, em que reinam a tristeza e o
desprazer, e a vida, os sonhos são mortificados. O professor
educador converte as salas de aula em espaços abertos e
multicoloridos, em que vicejam a alegria e o prazer, e a vida, os
sonhos são vicejados – em espaços de celebração da vida.
O
professor instrutor obedece aos receituários das liturgias mecânicas
e cristalizadas, com suas normas e ordens asfixiantes. O professor
educador ultrapassa as receitas desodorizadas e move-se pelas buscas
dinâmicas das transformações constantes e emancipadoras entre
ordem e caos. O professor instrutor transmite saberes. O professor
educador rumina saberes e busca sorver sabedorias. O professor
instrutor erige suas práticas pedagógicas com lógicas monológicas,
metálicas e excludentes. O professor educador fundamenta-se em
lógicas dialógicas, flexíveis e includentes.
O
professor instrutor dita conteúdos para que os alunos copiem
e assimilem de modo reflexo. O professor educador problematiza
conteúdos para que os alunos reflitam e compreendam criticamente. O
professor instrutor encampa modelos uniformes lastreados em certezas
fixas. O professor educador articula múltiplas referências fundadas
em possibilidades abertas, em incertezas. O professor instrutor
privilegia o logos, a cognição, a mente. O professor educador
entrelaça logos e eros, cognição e intuição, mente e corpo.
O
professor instrutor reduz-se aos muros/muralhas da escola, da sala de
aula. O professor educador transpõe esses limites trespassando os
horizontes expansivos do cotidiano movente da vida. O professor
instrutor professa voto de fidelidade às alianças cultuadoras das
burocracias que tendem à domesticação e à subjugação. O
professor educador concebe a necessidade mínima de burocracia, sendo
esta, mero instrumento que deve estar a serviço dos direitos e
liberdades fundamentais do ser humano.
O
professor instrutor busca as competências técnica e teórica, a
inteligência cognitiva. O professor educador busca as competências
técnica e teórica, mas, principalmente, as competências éticas e
estéticas, as inteligências cognitiva, intuitiva e emocional. O
professor instrutor tende à intolerância e até ao abuso de poder,
fala muito e quase não escuta. O professor educador prima pelos
princípios da tolerância, da ética da solidariedade e da escuta
sensível.
O
professor instrutor prima pelos vãos do ter. O professor educador
prima pelos desvãos do ser. O professor instrutor busca a reluzência
das performances externas dos indivíduos. O professor educador passa
pela exterioridade como caminho que conduz às dimensões mais
profundas da interioridade do ser, ao autoconhecimento.
O
professor instrutor acomoda-se nas linhas retas e regulares das
planícies. O professor educador aventura-se pelas curvas e
acidentalidades das montanhas. O professor instrutor habitua-se à
rotina das tartarugas e das galinhas que rastejam e ciscam a
superfície da terra. O professor educador, como a águia, nutre-se
das energias da terra e alça seus vôos bailantes pelos ermos do
incomensurável.
O
professor instrutor privilegia o desenvolvimento das dimensões mais
instintivas que traduzem os aspectos mais materialistas do ser
humano, as quais, isoladas, fomentam o espírito de competição e de
arrogância que desembocam em brutalização e barbárie. O professor
educador assume as múltiplas dimensões do humano, passando pelo
instinto e atingindo o coração e o espírito de fineza fomentando a
solidariedade e a amorosidade. O professor instrutor confina o humano
apenas à esfera do material/físico, do imediato e do visível
(pedagogia do São Tomé). O professor educador educa para a
imanência e para a transcendência, para o invisível, para os
valores humanos – a espiritualidade.
Amei ter a oportunidade de ler esta obra tão importante para nós educadores. Meus Parabéns.prof. Edna Psicopedagoga
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