Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o

Mulher Negra - Consciência Negra É Consciência Humana - (Adriana Moraes)

Foto: Emanuel Galvão

Sou uma mulher negra! Pra elaborar essa sentença foram necessários muitos anos, até eu tomar consciência do que sou e ainda um pouco mais de tempo para ter orgulho disso.
Fácil dizer que consciência negra não é necessária e sim, consciência humana. Mentira! É fundamental ter consciência negra e ter orgulho, sobretudo. Quem fala isso nunca viu uma criança negra na escola pública respondendo a um questionário, se dizendo branca. Ou mesmo uma garota negra que fotografou sua “marquinha do biquíni” para provar que não é negra. Ou ainda, perceber uma criança negra, aceitar ser chamada de moreninha, mulata (mulato=cor de mula), parda... só pra ser aceita numa sociedade mestiça, mas que ainda não largou os costumes escravocratas.

Não existe consciência humana quando são os meus irmãos negros que apanham da polícia, que servem às mesas, que cortam cana, e que são estereotipados como ladrões, traficantes, estupradores, desocupados, vagabundos, favelados... Ou mesmo minhas irmãs negras que limpam as latrinas e a bunda dos filhos das pessoas que exigem consciência humana.
Sou uma mulher negra, de cabelos crespos, de nariz largo e de língua muito afiada. Consciência humana só quando todos forem humanos. Quero ter e disseminar minha consciência negra. Quero toda minha gente mudando sua história cheia de orgulho. Caminhando para frente, mas sempre olhando para trás.


Adriana Moraes – Mulher Negra 





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