Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o

'Novelo de Delícias' (Marla de Queiroz)




Abro as pernas e as palavras se contraem: tua língua se apropria do meu texto, tua fala sempre tão bem dita. Fecho os olhos: teu poema me penetra, nossas palavras gemem, a poesia grita. 

Mas eu guardo em segredo minhas frases mais aflitas. (Pelo menos dessa vez não vou deixar que o meu medo te pareça abandono. Pelo menos dessa vez não vou supervalorizar nossa história que é apenas tão bonita.) Vou deixar que se enfie em mim com dedos, membro, língua e malícia. E o teu corpo, meu tutor, se apropriar do meu sem dono, num abraço pélvico escorregadio, num enroscamento longo qual novelo de delícias.


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