Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

Imagem
  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o...

Eu abro a janela e vejo a vida bela (Emanuel Galvão)


Para D. Liége

'Penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.'
Rubem Braga

Eu abro a janela
E vejo a vida bela
Eu vejo muito a além das necessidades
- Um mundo de possibilidades –
Mais que louças para lavar
Eu vejo que tive pão em minha mesa
E os momentos de tristeza
Serão por certo menos significativos
Que os momentos de alegria
Afinal, sentir é um atributo dos vivos.

A dor da realidade
É menor que o desengano
Que, se trabalhei todos os dias do ano
Foi porque tive saúde
Portanto, não reclamo.
Fiz o que pude
Se não fiz tudo que quis
Por isso apesar e não porque
Eu vivo para ser feliz.

Eu abro os olhos
E o mundo me assombra
E encanta
Esse mesmo mundo que me cobra
Que me espanta
Possibilita-me
O ato de abrir ferrolhos.

Com a janela aberta
Eu vejo mais além
Do que a vida incerta.
Eu vejo que ninguém
É forte ou feliz sozinho
Por isso em meu caminho
Eu busco por alguém
Pra caminhar comigo
Um bem
Um outro
Um amigo.

Eu abro a janela
E vejo a vida bela
E sei que tudo nela
Tem começo, meio e fim
- é simples assim -
Ou breve ou longa
Com deleite ou açoite
Após cada noite
Amanhece um novo dia.

Apesar da correria
De nadar contra a correnteza
Das dores, dissabores, mazelas
Com um pouco de cautela
Mas muito de certeza
Eu tenho a ousadia
De abrir minha janela
E achar que a vida é bela.

08.03.2013 / 02:32hs


Copyright © 2014 by Emanuel Galvão
All rights reserved.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eu não gosto de você, Papai Noel!... (Aldemar Paiva)

Eu Te Desejo (Flávia Wenceslau)

TÊNIS X FRESCOBOL (Rubem Alves)

Os Votos (Sérgio Jockymann)

Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

A Reunião dos Bichos (Antônio Francisco)

O Natal Existe - Bom Natal (Edson Borges)

MEUS SECRETOS AMIGOS (Paulo Sant'Ana)

'ATÉ QUE A MORTE...' (Rubem Alves)