Eu cresci em meio a mulheres extremamente fortes. Fortes à sua
maneira.
Entre minha mãe, minhas tias e as agregadas da família, vi
mulheres que tomavam decisões, matavam leões, matavam e morriam diariamente.
Assisti essas mulheres defendendo suas crias de um estranho
mundo que sempre foi cruel com elas mesmas.
Testemunhei, despercebida, as lutas diárias e insanas delas
para ter pão na mesa, para ter educação para suas crias, para ter um teto sobre
suas cabeças. Essa força nas mulheres que eu conheço é tão natural que nem
chega a ser qualidade, é necessidade.
Essas mesmas mulheres, apesar da força, são machistas. Mas
até isso me serviu de lição.
Aprendi que o machismo e a opressão que ele nos causa, vem
em parte, de nós mesmas. Nós estabelecemos de algum modo, as relações de gênero,
nós construímos também essa cultura.
Perdoei e perdoou o machismo das mulheres mais velhas da
minha família. Mas acho inconcebível a cultura machista que é pregada
diariamente, quase como um mantra nas redes sociais. Homens são “chave mestras”,
mulheres são “putas”. Homens são “garanhões”, “pegadores”. Mulheres são “cachorras,
galinhas, vacas, piranhas”, além de “piriguetes, vagabundas” ou qualquer coisa
que o valha. E essa mesma cultura não é disseminada exclusivamente por homens
não. As mulheres são vitimas e algozes ao mesmo tempo.
Hoje, não quero “parabenizar” minhas amigas. Hoje quero
exigir o direito de ser quem eu quiser ser. O sagrado direito ao meu corpo. O
sagrado direito de mostra-lo ou escondê-lo. De ter prazer. Quero o direito irrefutável
de ser a vítima e não vilã em um ato violento.
Falo palavrão, falo alto, bebo, uso maquiagem e reclamo do meu peso
diariamente. Sou mãe feliz e ainda assim, desejo, às vezes, uma ilha deserta.
Nas homenagens que me renderam hoje, no dia internacional da
mulher, não me reconheci em quase nenhuma delas. Visto que não tenho tantas
virtudes. As virtudes que eu tenho são por eu ser humana, mas não por eu ser
mulher (ainda assim obrigada pelas homenagens). O dia de hoje representa mais
um dia de luta. Não luta contra homens, mas luta para sermos mulheres e pronto.
Entre panelas e volante, batom e retórica, esmaltes e tintas,
gasolina e perfumes, ceras quentes e pelos, filhos, companheiros e colegas de
trabalho, livros e ferramentas, saliva e suor, sou Mulher fraca e forte. Sou
humana.
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