Duas
mulheres entram numa das maiores confeitarias de Maceió. A beleza da loira era
estonteante. O pedaço de bolo logo foi esquecido e os olhos ficaram devotados
somente para ela. A outra mulher, de cabelos brancos e colar dourado,
perguntou:
- E
namorado, minha filha? Você está quase há um ano solteira. Mulher bonita troca
de namorado, mas não fica solteira.
- Vovó, a
fase não está boa mesmo. Estou andando nas melhores festas, naquelas das
melhores pessoas. Festa só vale a pena se o ingresso custar acima de duzentos
reais.
O encanto
foi sepultado com apenas poucas palavras. Terminei meu bolo rapidamente e
voltei para casa pensando nas “melhores pessoas” e o que elas fazem.
As melhores
pessoas ajeitam seus ventiladores na calçada, andam com pouca roupa pela rua e
cuidam das plantas ao final do dia. Quando andam na praia, elas não olham com
inveja para os prédios luxuosos e palacetes alheios, preferindo agradecer pela
leve brisa que acalenta.
As melhores
pessoas sentem dor de dente aos domingos e mesmo assim levam os netos para
tomar sorvete. Veem um filme que nada lhes apetece só para desfrutarem da
companhia de alguém especial. Chupam manga com sal só para desafiar as leis dos
homens que prometem a morte por tal combinação. Sentam-se nas cadeiras na
calçada, apanhando o sereno da noite e contemplam a lua nova.
As melhoras
pessoas escondem suas hérnias umbilicais, bem como as frieiras e impinges, do
mundo, do ser amado. Mas, atendem ao desejo quando esse chega com força. O
corpo nu falho e imperfeito é coberto pelo desejo e nada mais. São
desprevenidas e tomam as chuvas de janeiro quando saem sem guarda-chuva. Levam
também banhos de lama dos carros apressados que avançam pela cidade. Vez por
outra, esquecem-se de pagar uma conta de gás ou energia, lembrando somente
quando os serviços foram suspensos justamente no dia do jantar prometido para
quem se ama.
As melhores
pessoas não esperam muito do outro, todavia não se contentam com pouco. Não
vivem da migalha do sentimento de outrem. Elas pouco fazem questão de
supervalorizar a caridade do dia santo e o pecado da festa pagã. As melhores
pessoas vão para igrejas, terreiros, templos ou não têm fé. Podem até andar nos
bingos clandestinos, nos cabarés, no ponto do bicho ou nos divãs.
As melhores
pessoas já brocharam com o ser amado e fizeram sexo louco com alguém que em
nada agrada. Jogaram xícaras na parede por uma raiva intensa ou engolem o
choro, a palavra, o gozo.
As melhores
pessoas plantam mamoeiro no quintal ou até jaqueira, para que o neto possa
comer jaca mole passados trinta anos. Podem ser preconceituosas, mas conseguem
mudar de opinião ao ouvir atentamente o outro. Jogam futebol, apostam dinheiro.
As melhores pessoas já pensaram em suicídio, homicídio e no roubo milionário do
banco central. Pensaram e não fizeram. Elas já traíram ou pensaram em trair.
Foram traídas ou ainda serão.
As melhores
pessoas suam e embaçam os vidros dos carros enquanto se deliciam com o corpo de
alguém. Prometem sexo quando querem sexo e juram amor quando estão querendo
amar. Fogem de encontros marcados por saberem que ali correm algum perigo. São
humanas. Permanecem com marcas das unhas cravadas na noite anterior. Pensam na
noite anterior, no adultério, no amor que nunca há de ser. Entendem que a
beleza vem, causa seu estrago, e passa.
As melhores
pessoas não morrem por amor, mas seguem vivendo por ele. As melhores pessoas
morrem por amor, mas continuam vivas esperando o retorno dele e a ressurreição.
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