Para Alane,
o smartphone do marido era um atrevido que se meteu em suas
vidas. Se tivesse sexo, não gênero, diria que eles mantinham uma relação
homoafetiva. Que toda aquela atenção dedicada para ele se voltasse para ela.
Largada no sofá, já não aguentava aquela situação. Precisava dar um jeito
nisso.
Foi aonde
ele estava, disse-lhe algo e ele nem prestou atenção. Queria mais era se
divertir, caçar Pokémon. Sentindo-se rejeitada, foi para o banheiro e
chorou amargamente. Em seguida, lavou o rosto, banhou-se. Telefonou para a
prima e pediu que a pegasse em casa. O que mais queria naqueles instantes de
amargura era sumir de casa.
No bar,
lamurienta, pediu uma dose de uísque, mais outra e outra. Eufórica,
avistou um belo rapaz que sorriu para ela. A prima não a empurrou para ele, mas
pediu que tivesse cuidado. Os apelos foram inúteis. E no banheiro do bar, deram
uma rapidinha.
Passada
aquela noite da primeira traição, Alane se sentia mal e sequer olhava para o
marido. Olhar em seus olhos, nem pensar. As horas se passaram e Inácio nada percebeu.
Sua vida estava mergulhada no mundo dos games e da navegação. Ela passou a ter
desprezo por ele e a lhe tratar mal, chegando ao ponto de dizer impropérios.
Ele não tava nem aí.
Num dia
qualquer, ela arrumou a mala, disse que estava indo embora. Ele fingiu não
ouvi-la. Continuou no notebook. Ela se irritou e disse: “Você não quer nem se
despedir de mim. Mas eu quero”. Pegou o notebook e o jogou contra o chão. As
partes se espalharam pela casa. Inácio olhou para ela furioso, mas foi Alane
quem lhe deu um tapa na cara com toda força, raiva e ódio. Feito isso,
saiu e bateu a porta.
Inácio
chorou, não pelo tapa levado, não pela ida dela; mas por avistar partes do seu
notebook espalhados pelo assoalho da casa como se fosse um corpo esmigalhado
numa colisão. Passado o choro, ele pensou: “Bem, ela já se foi. Vou aqui na
loja, compro outro notebook, recupero o hd e tá tudo certo”. Isso o encheu de
regozijo satânico. Sabia que estava livre dela.
Depois, foi
ao quarto onde costumava ficar e disse: “Samara, pode vir. Venha, meu amor. Tô
esperando por você. Agora, a casa é toda sua. Ninguém mais nos impedirá de
sermos felizes. Ah, você quer que eu a leve nos braços? Pois não! Será um
prazer”. E a levou para o quarto, deixando-a numa posição sexy, a que ele mais gostava.
Em seguida,
foi trabalhar. No trabalho, todos perceberam que ele estava feliz. O sorriso ia
de um lado a outro. E perguntaram se ele havia namorado muito. Ele abriu aquele
sorriso que só os apaixonados têm, deixando todos curiosos.
Na hora do
almoço, André, seu melhor amigo; encontra-se com Alane. Ele a convida para
almoçar. Enquanto não são servidos, comenta:
“Fulano tá
todo sorridente. A última vez que eu o vi assim, ele estava apaixonado por
você”.
“Sei lá
daquele desmiolado. Só vive naquele notebook e no smartphone. Tem horas
que fica num quarto. Você acreditar que ele nunca me deixou entrar naquele
quarto e passava a maioria das noites lá? Ainda bem que eu deixei ele. Estava
cansada de tudo aquilo, daquele comportamento estranho”.
“Bote
estranho nisso! Será que tem outra garota na parada? ”.
“Não sei.
Ele me deixava tão frustrada que eu nunca pensei nisso. Eu só queria poder
estar perto dele, poder conversar, rir, fazê-lo esquecer por alguns minutos
aquela vidinha. Mas era inútil. Preciso ir. Tchau! ”.
“Tchau”.
Enquanto se
distanciava, André ficou sem entender como alguém era capaz de desdenhar de uma
garota feito Alane. E concluiu: o amor é multifacetado.
Professor,
escritor, blogueiro. Autor dos livros Agonia Urbana(prosa poética), Laura
(Prêmio Alina Paim/infantojuvenil), A menina das queimadas (infantojuvenil) e
Viu o home? (crônicas). Para saber mais, acesse: ronperlim.com.br/.
Emanuel, obrigado por reproduzir meu texto no seu blogue.
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