O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o...
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Façamos, Vamos Amar - Let’s Do It, Let’s Fall in Love - (Cole Porter/Carlos Rennó)
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Os cidadãos no Japão fazem Lá na China um bilhão fazem Façamos, vamos amar
Os espanhóis, os lapões fazem Lituanos e letões fazem Façamos, vamos amar
Os alemães em Berlim fazem E também lá em Bonn Em Bombaim fazem Os hindus acham bom
Nisseis, níqueis e sansseis fazem Lá em São Francisco muitos gays fazem Façamos, vamos amar
Os rouxinóis nos saraus fazem Picantes pica-paus fazem Façamos, vamos amar
Uirapurus no Pará fazem Tico-ticos no fubá fazem Façamos, vamos amar
Chinfrins, galinhas afim fazem E jamais dizem não Corujas sim fazem, sábias como elas são
Muitos perus todos nus fazem Gaviões, pavões e urubus fazem Façamos, vamos amar
Dourados no Solimões fazem Camarões em Camarões fazem Façamos, vamos amar
Piranhas só por fazer fazem Namorados por prazer fazem Façamos, vamos amar
Peixes elétricos bem fazem Entre beijos e choques Cações também fazem Sem falar nos hadoques
Salmões no sal, em geral, fazem Bacalhaus no mar em Portugal fazem Façamos, vamos amar
Libélulas em bambus fazem Centopéias sem tabus fazem Façamos, vamos amar
Os louva-deuses com fé fazem Dizem que bichos de pé fazem Façamos, vamos amar
As taturanas também fazem com um ardor incomum Grilos meu bem fazem E sem grilo nenhum
Com seus ferrões os zangões fazem Pulgas em calcinhas e calções fazem Façamos, vamos amar
Tamanduás e tatus fazem Corajosos cangurus fazem Façamos, vamos amar
(Vem com a mãe)
Coelhos só e tão só fazem Macaquinhos no cipó fazem Façamos, vamos amar
Gatinhas com seus gatões fazem Tantos gritos de ais Os garanhões fazem Esses fazem demais
Leões ao léu, sob o céu, fazem Ursos lambuzando-se no mel fazem Façamos, vamos amar Façamos, vamos amar
*ouça com Elza Soares e Chico Buarque
When the little bluebird, Who has never said a word, Starts to sing: “Spring, Spring!” When the little bluebell, At the bottom of the dell, Starts to ring: “Ding, ding”. When the little blue clerk, In the middle of his work, Starts a tune to the moon up above, It is nature, that is all, Simply telling us to fall In love.
And that’s why Chinks do it, Japs do it, Up in Lapland, little Lapps do it, Let’s do it, let’s fall in love. In Spain, the best upper sets do it, Lithuanians and Letts do it, Let’s do it, let’s fall in love. The Dutch in Old Amsterdam do it, Not to mention the Finns; Folks in Siam do it, Think of Siamese twins. Some Argentines, without means, do it, People say, in Boston, even beans do it, Let’s do it, let’s fall in love.
The nightingales, in the dark, do it, Larks, k-razy for a lark, do it, Let’s do it, let’s fall in love. Canaries, caged in the house, do it, When they’re out of season, grouse do it, Let’s do it, let’s fall in love. The most sedated barnyard fowls do it, When a chanticleer cries; High-browed old owls do it, They’re supposed to be wise. Penguins in flocks, on the rocks, do it, Even little cuckoos, in their clocks, do it, Let’s do it, let’s fall in love.
Romantic sponges, they say, do it, Oysters, down in Oyster Bay, do it, Let’s do it, let’s fall in love. Cold Cape Cod clams, ‘gainst their wish, do it, Even lazy jellyfish do it, Let’s do it, let’s fall in love. Electric eels, I might add, do it, Though it shocks ‘em, I know; Why ask if shad do it? Waiter, bring me shad roe. * In shallow shoals, English soles do it, Goldfish, in the privacy of bowls, do it, Let’s do it, let’s fall in love.
The dragonflies, in the reeds, do it, Sentimental centipedes do it, Let’s do it, let’s fall in love. Mosquitoes, heaven forbid, do it, So does ev’ry katydid, do it, Let’s do it, let’s fall in love. The most refined lady bugs do it, When a gentleman calls; Moths in your rugs do it, What’s the use of moth balls? Locusts in trees do it, bees do it, Even overeducated fleas do it, Let’s do it, let’s fall in love.
The chimpanzees, in the zoos, do it, Some courageous kangaroos do it, Let’s do it, let’s fall in love. I’m sure giraffes, on the sly, do it, Heavy hippopotami do it, Let’s do it, let’s fall in love. Old sloths who hang down from twigs do it, Though the effort is great; Sweet guinea pig do it, Buy a couple and wait. The world admits bears in pits do it, Even pekineses in the Ritz do it, Let’s do it, let’s fall in love.
Eu não gosto de você, Papai Noel! Também não gosto desse seu papel de vender ilusões à burguesia. Se os garotos humildes da cidade soubessem do seu ódio à humildade, jogavam pedra nessa fantasia. Você talvez nem se recorde mais. Cresci depressa, me tornei rapaz, sem esquecer, no entanto, o que passou. Fiz-lhe um bilhete, pedindo um presente e a noite inteira eu esperei, contente. Chegou o sol e você não chegou. Dias depois, meu pobre pai, cansado, trouxe um trenzinho feio, empoeirado, que me entregou com certa excitação. Fechou os olhos e balbuciou: “É pra você, Papai Noel mandou”. E se esquivou, contendo a emoção. Alegre e inocente nesse caso, eu pensei que meu bilhete com atraso, chegara às suas mãos, no fim do mês. Limpei o trem, dei corda, ele partiu dando muitas voltas, meu pai me sorriu e me abraçou pela última vez. O resto eu só pude compreender quando cresci e comecei a ver todas as coisas com realidade. Meu pai chegou um dia e disse, a seco: “Onde é que está aquele ...
Eu te desejo vida, longa vida Te desejo a sorte de tudo que é bom De toda alegria ter a companhia Colorindo a estrada em seu mais belo tom Eu te desejo a chuva na varanda Molhando a roseira pra desabrochar E dias de sol pra fazer os teus planos Nas coisas mais simples que se imaginar Eu te desejo a paz de uma andorinha No vôo perfeito contemplando o mar E que a fé movedora de qualquer montanha Te renove sempre, te faça sonhar Mas se vier as horas de melancolia Que a lua tão meiga venha te afagar E a mais doce estrela seja tua guia Como mãe singela a te orientar Eu te desejo mais que mil amigos A poesia que todo poeta esperou Coração de menino cheio de esperança Voz de pai amigo e olhar de avô Ouça a Música
Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa. Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.’
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o...
'Pois desejo primeiro que você ame e que amando, seja também amado. E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo não guarde mágoa. Desejo depois que não seja só, mas que se for, saiba ser sem desesperar. Desejo também que tenha amigos e que mesmo maus e inconseqüentes sejam corajosos e fiéis. E que em pelo menos um deles você possa confiar e que confiando não duvide de sua confiança. E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos nem poucos, mas na medida exata para que algumas vezes você interprele a respeito de suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo para que você não se sinta demasiadamente seguro. Desejo depois que você seja útil, não insubstituívelmente útil mas razoavelmente útil. E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante, não com que os que erram pouco, porque isso é fácil, ...
Eu vinha de Canindé Com sono e muito cansado Quando vi, perto da estrada Um juazeiro copado. Subi, armei minha rede, Fiquei nele deitado. Como a noite estava linda Procurei ver o cruzeiro, Mas cansado como estava Peguei no sono ligeiro, Só acordei com os gritos Debaixo do juazeiro. Quando olhei para baixo Eu vi um porco falando, Um cachorro e uma cobra E um burro reclamando, Um rato e um morcego E uma vaca escutando. O porco dizia assim: -“Pelas barbas do capeta! Se nós ficarmos parados A coisa vai ficar preta... Do jeito que o homem vai Vai acabar o planeta. Já sujaram os sete mares Do Atlântico ao mar Egeu, As florestas estão capengas, Os rios da cor de breu E ainda por cima dizem Que o seboso sou eu. Os bichos bateram palmas, O porco deu com a mão, O rato se levantou E disse: – “Prestem atenção, Eu também já não suporto Ser chamado de ladrão. O homem, sim, mente e rouba, Vende a honra, compra o nome. Nós só pegamos a sobra Daqu...
Se quiser plantar saudade Escalde bem a semente Plante num lugar bem seco Onde o sol seja bem quente Pois se plantar no molhado Quando crescer mata gente
Quero ver você não chorar Não olhar pra trás Nem se arrepender do que faz Quero ver o amor crescer Mas se a dor nascer Você resistir e sorrir Se você pode ser assim Tão enorme assim eu vou crer Que o natal existe Que ninguém é triste Que no mundo ha sempre amor Bom natal Um feliz natal Muito amor e paz prá você Prá você
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências... A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os p...
De vez em quando o diabo me aparece e temos longas conversas. Em nada se parece com o que dizem dele: rabo, chifres, patas de bode e cheiro de enxofre. Cavalheiro de voz mansa e racional, bem vestido, apreciador de desodorantes finos, me surpreende sempre pela lógica dos seus argumentos. Nada de futilidades. Só fala sobre o essencial, estilo que aprendeu com Deus, nos anos em que foi seu discípulo. Percebi que era ele quando notei que trazia na sua mão direita o martelo e, na esquerda, a bigorna. Pois esta é a sua missão: martelar as certezas, ferro contra ferro, para ver se sobrevivem ao teste. Já se preparava para dar a primeira martelada quando o interrompi: - Que é isto que você vai bater? Acho que vai se partir em mil pedaços…
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