Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

Imagem
  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o...

Muitas Fugiam ao Me Ver… (Carolina Maria de Jesus)


Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia

Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto

Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.

– Carolina Maria de Jesus, em “Antologia pessoal”.
 (Organização José Carlos Sebe Bom Meihy). 
Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.


“A vida é igual um livro. 
Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra.
 E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos
 como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta.
 Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.”

– Carolina Maria de Jesus, em “Quarto de despejo”.
 São Paulo: Francisco Alves, 1960, p. 160.



Carolina Maria de Jesus era uma anônima até o 
lançamento do seu primeiro livro, Quarto de Despejo. 
Publicado em agosto de 1960, a obra era uma reunião
de cerca de 20 diários escritos pela mulher negra, 
mãe solteira, pouco instruída e moradora da favela 
do Canindé (em São Paulo).

Quarto de Despejo foi um sucesso de vendas 
e de público porque lançou um olhar original 
da favela e sobre a favela.

Traduzido para treze idiomas, Carolina ganhou 
o mundo e e foi comentada por grandes nomes 
 da literatura brasileira como Manuel Bandeira, 
Raquel de Queiroz e Sérgio Milliet.

No Brasil, os exemplares de Quarto de 
Despejo alcançaram uma tiragem de mais 
de 100 mil livros vendidos em um ano.

Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura 

Veja mais em: CULTURA GENIAL

*14 de março de 1914 (Sacramento - MG)
+13 de fevereiro de 1977 (São Paulo - SP)




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eu não gosto de você, Papai Noel!... (Aldemar Paiva)

Eu Te Desejo (Flávia Wenceslau)

TÊNIS X FRESCOBOL (Rubem Alves)

Os Votos (Sérgio Jockymann)

Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

A Reunião dos Bichos (Antônio Francisco)

O Natal Existe - Bom Natal (Edson Borges)

MEUS SECRETOS AMIGOS (Paulo Sant'Ana)

'ATÉ QUE A MORTE...' (Rubem Alves)