Passei Uns Dias Sentindo Um Calor (Elaine Cristina dos Santos Lima)
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Passei
uns dias sentindo um calor.
Calor
que surgiu na minha epiderme e se infundiu até a camada mais profunda da minha
alma.
Um
calor desses que só pode surgir na pele porque necessita de estímulos sensuais,
dos sentidos e da carne. Aliás, como toda emoção.
A
sensualidade é fundamental. Gosto de ouvir, de tocar, de ver e gosto que sintam
em mim.
A
cada movimento da vida se apresenta uma possibilidade de experimentar o
inusitado. Muitas vezes desafiando o espaço e o tempo e sempre desafiando o
tradicional. Embora, não seja fácil e nem óbvio entender. Mas, eu me esforço.
A
vida não deixa de ser um labirinto explosivo de sensações que nos exige atenção
e entrega. Eu me entrego. Não me entrego numa cega submissão a um destino dito
predeterminado e sim, me entrego, numa escolha racional e emocional posta como
possível.
É
uma vida ardente de explosões sentimentais que quero e vivo sempre que o
momento me aparece. Esses dias de calor me pareceu um desses momentos. Fiquei a
escutar meus pensamentos que retumbavam incessantes minhas fantasias.
E
como sou criativa!
É
até difícil colocar no papel o que penso.
Mais
fácil seria viver. Embora, viver seja tão difícil.
Nesses
dias de calor o sol nem estava tão próximo. Não aquele que identificamos
enquanto a estrela central do nosso sistema solar. Mas, havia um sol próximo.
Seria impossível queimar tanto a pele se não houvesse.
Um
sol em forma de gente.
Desses
que tem pernas, cabelo, tronco, mãos, cabeça e talento. Sempre acompanhei de
longe como uma impossibilidade. Mas, agora que está perto, reafirmando o
inusitado da vida, me queima ardentemente. Claro que perto é apenas uma
expressão, na falta de outra mais apropriada para inserir nesse texto agora,
uma vez que sentir também desafia o espaço.
Um
dos pensamentos que me ocupavam a mente e quase não deixava espaço pra
pensamentos de outra ordem é o dos lábios.
Sim.
Lábios. Adoro lábios. Quase sempre vulgarizados como premissa obrigatória para
se começar qualquer emoção. Mas, lhe retiro a obrigação e lhe confiro a
liberdade. Por isso, não penso os lábios como um início, mas como um partícipe
voluntário que pode ocorrer a qualquer hora e inclusive não ocorrer.
Ai
os lábios!!! Com sua presença úmida que parece mais quente que meu corpo
queimando.
Lábios
que deslizante dos pés à cabeça me deixa em frenesi.
Lábios
que tem seu ápice no percurso corporal ao tocar os lugares ocultos e proibidos
e nos faz transformar a fala, sempre por mim, tão desejada, em sussurros
indecifráveis. A fala também precisa do movimento dos lábios. Ai!!
Os
lábios e seu movimento são sempre desejáveis. Aquele movimento que exprime
deliciosas torturas linguísticas ditas apenas em momentos de tensão corporal
quando o sangue está correndo mais rapidamente em suas veias e o coração parece
que vai saltar do corpo descontrolado. Mas, não se trata de qualquer dito sem
sentido ou mesmo de qualquer discurso bem elaborado, chato e previsível.
Palavras que expressam aquele corpo incontido e todo o seu desejo mais
transgressor. Tudo ao pé do ouvido de quem estiver pra ouvir. Muitas vozes,
lábios e corpos se estreitando entre si.
Sou
dada a imaginação. O tempo inteiro ideias não deixam em paz nem minha alma e
nem meu corpo, por isso, queimo. Resposta ao sol em forma de gente que me
estimulou tão fortemente.
Já
que só podia imaginar, não conseguia controlar minha imaginação.
Talento
é algo que me atrai. Não um talento mesquinho que revela um egocentrismo
vaidoso. Mas, um talento que se expressa numa forma de vida não convencional. Esse
talento é a minha serpente do Éden desprovida de todo o pecado. Me hipnotiza
com facilidade porque me oferece o inesperado. E eu quero. Sempre quero.
Passei
uns dias sentindo um calor. Tomei banho mais vezes. Mas, toda vez que as
gotículas de água se uniam impetuosamente no chuveiro e desciam banhando meu
corpo, internamente, eu me aquecia mais. Minha pele está em erupção e mesmo a
água que deveria apaziguar, evapora, e me parece um condutor de estímulo
sensorial e emocional na ausência e na presença do sol em forma de gente.
Passei
uns dias sentindo um calor que não passa!
No
verão pandêmico de 2021.
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