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Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o...

Ao Góes (Emanuel Galvão)

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“Plantei um pé de saudade E nunca mais ele morreu”                            mgóes Ele vivia driblando a solidão mente sã corpo não era do tipo de poeta que costura versos com a linha do equador eu costurei seus versos num poema de amor sua poesia nasceu para sentir, e hoje mais do que nunca sente... e sente muito sua ausência e Deus lhe deu de presente um pedaço de céu azul escrito em baixo: estrelado para cima. ele que era como Deus só que as avessas escrevia torto por linhas retas foi recebido por antigos poetas e escritores: Ascenso Ferreira, Hermilo Borba Filho, fez bonito frente aos conterrâneos Juarez Correia, Luiz Berto a doença ao Góes entregou... um poeta liberto. Copyright © 2018 by Emanuel Galvão All rights reserved.

Serra da Barriga (Jorge de Lima)

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Serra da Barriga! Barriga de negra-mina! As outras montanhas se cobrem de neve, de noiva, de nuvem, de verde! E tu, de Loanda, de panos-da-costa, de argolas, de contas, de quilombos! Serra da Barriga! Te vejo da casa em que nasci. Que medo danado de negro fujão! Serra da Barriga, buchuda, redonda, de jeito de mama, de anca, de ventre de negra! Mundaú te lambeu! Mundaú te lambeu! Cadê teus bumbuns, teus sambas, teus jongos? Serra da Barriga, Serra da Barriga, as tuas noites de mandinga, cheirando a maconha, cheirando a liamba? Os teus meio-dias: tibum nos peraus! Tibum nas lagoas! Pixains que saem secos, cobrindo sovacos de sucupira, barrigas de baraúna! Mundaú te lambeu! Mundaú te lambeu! De noite: tantãs, curros-curros e bumbas, batuques e baques! E bumbas! E cucas: ô ô! E bantos: ê ê Aqui não há cangas, nem troncos, nem banzos! Aqui é Zumbi! Barriga da África! Serra da minha terra! Te vejo bulindo, mexendo, gozando Zumbi! Depois, minha ...

'Comprometa-se Com a Felicidade' (Marla de Queiroz)

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A vida não é fácil. Ninguém nos garantiu que seria. Viver exige esforço, gratidão e autoconhecimento para ser mais leve. Autopiedade não tira ninguém da tristeza. A culpa e o arrependimento não mudam o passado. O que pode ser feito daqui para frente é onde mora o crescimento. Sofrimentos podem ser grandes ensinamentos e não motivos para lamentações infindáveis. Ter pena de si mesmo é um grande autodesprezo porque não temos pena de quem admiramos. A solitude é saudável. A solidão vicia e só nos invade quando não somos solidários. Pedir ajuda é um ato de humildade, mas não espere que o Outro resolva as coisas para você: até para levantar da cama diariamente, é necessário um esforço próprio. Temos em nossas mãos o poder da superação, do renascimento. A ansiedade nos deixa preocupados, a ação nos ocupa e nos faz produtivos. E o amor, este precisa alcançar dimensões muito maiores, começando por incluir nós mesmos através do perdão. Quando não estamos nos gostando, estamos agindo destru...

Ventania (Verônica Ferreira)

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Esse vento Que entrou pelas janelas abertas Vem de longe, muito longe, Lá onde moram os sonhos. Ele encheu a casa De aromas da infância, Cheiro de frutas Cheiro de mar, de férias E de algumas fragrâncias Que não se encontra mais. A força desse vento Abriu algumas gavetas Que estavam fechadas e esquecidas, Espalhou pela casa Fotos, papeis, recordações... Deixando rostos queridos estampados nas paredes, Além de aromas, O Vento trouxe sons de antigas canções e vozes Que se espalharam por toda parte. Fui rodando pela casa inteira, Movida por sua força, Como se estivesse dançando E atravessei paredes, Entrei em lugares já vividos, Encontrei-me com o ontem Como se hoje fizesse sentido. Parei na porta da saida Mas, não vi a rua, Olhei para dentro da casa E entre fotos, papeis, recordações, brinquedos de criança, Canções e aromas... Lá estava "eu" Encolhida num canto da sala, Olhamo-nos profundamente Como quem encontra um grande amor. Copyr...

(malukisses) Múcio Góes

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ela me beijou feito louca e me deixou com esse gosto de coração na boca