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Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o

"Quando For Fazer amor" (Zack Magiezi)

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Quando for fazer amor. Faça nu. Tire os diplomas. O Status. Sucesso profissional. Suas etiquetas de grife. Tire a chaves do carro. Os cartões de crédito. Tire tudo. Até só sobrar a deliciosa. Apimentada humanidade. Siga o autor no Instagran.

Neruda (Rafael Britto)

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Não me prive do consolo do seu olhar terno E nem troque as fechaduras do seu coração Acabe com esses delírios tão inquietos Pois estou perto e certo que temos solução Se eu posso viver tudo isso de novo, posso lhe fazer feliz agora... Se deite na areia da praia mais linda que ver Relembre seus momentos felizes comigo Refaça as coisas que não deram certo Procure nas ondas da vida um mar de sorrisos Se eu posso viver tudo isso de novo, posso lhe fazer feliz agora... Volta pra casa, trazendo as malas de sua viagem Na bagagem mostra por onde seu sonho passou O que soprou o vento em seus cabelos Remete-los ao acordar que nossa vida já chegou Se eu posso viver tudo isso de novo, posso lhe fazer feliz agora... E se você dormir por estar confusa com isso Cismo eu mesmo de tentar te ajudar Acompanhar seu sofrimento tão impreciso Algo tão ambíguo, mas querido, como o mar Se eu posso viver tudo isso de novo, posso lhe fazer feliz agora... Sou péssimo com as palavr

Ainda Cabe Sonhar (Jonathan Silva)

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Bordar, num pano de Linho Um poema Tambor que desperte o vizinho. Pintar, no asfalto e no rosto Um poema alvoroço que adormeça a cidade. Dançar com tamancos na praça Cantar, porque um grito já não basta Esfarrapados, banguelas e Meninos de rua, poetas, babás. Vistam seus trapos, abram os teatros, É hora de começar: Alerta, desperta, ainda cabe sonhar. Alerta, desperta, ainda cabe sonhar.

Aninha e Suas Pedras (Cora Coralina)

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Não te deixes destruir… Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.

Inevitável (Paulo Miranda Barreto)

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Coloquei palavras na boca da noite Sussurrei mentiras na orelha dos livros Conversei com plantas, retratos, paredes. . . e roubei de Deus uns dons subversivos Caminhei nas nuvens com meus pés de vento Bebi oceanos, fumei nevoeiros e desapontei ponteiros de relógio por matar meu tempo . . . com versos certeiros Não ganhei o dia, nem movi o monte mas juro . . . delirei a cada letra aliterando as linhas do horizonte. . . rimando a luz até domar o medo. . . Olhei os lírios do campo Contei estrelas, segredos Cortei pulsos, fios e dedos. . . Errei, conheci verdades. . . Caí do céu noutro mundo Vi pra crer, quase não cri . . . Ousei escapulir . . . Pulei um muro Revi meu passado, previ meu futuro e dei-me de presente um ‘Bem Maior’ Fui muitas vezes dessa pra melhor. . . -garanto que ser eu nunca foi fácil- fui sempre o ‘menos lúcido’ no hospício e nunca o ‘mais benquisto’ no palácio. . . fui fundo, fiz chover, salvei uns santos e devo admitir . . . nem foram tantos mas, tudo bem -ningué