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Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o...

Acolher (Claudia Lima)

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Dê abraços acolhedores sempre. Só quem já acolheu uma criança pequena no colo E sentiu dela um relaxamento de confiança, de entrega Sabe o que é acolher. Para acolher é necessário Estar pronto a receber, E não é fácil... Porque a troca de energia É via de mão dupla: vai e volta. Quem vai em busca do acolhimento Procura: calor, segurança, aconchego, entrega Chega em busca de um abraço, um colo... Por muitos motivos: dor, perda, decepção, estresse, coração partido e muito mais... Quem acolhe tenta ser esponja grande e macia, Cheia de energia positiva Para acolher, e acolher bem.  Copyright © 2019 by Claudia Lima All rights reserved.

Proletariado (Hélder Aragão - Dj Dolores)

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*(foto) Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! E quem é que apanha? Proletariado! É quem passa a fome? Proletariado! Sempre desempregado? Proletariado! A caminho do crime? Proletariado! Quem tá fora da festa, Quem bate com testa, No muro da grana, Quem mora no buraco, Quem carrega o saco, Quem é o culpado? Pra quem é a polícia? Pra quem é a polícia? Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! E quem é que apanha? Proletariado! É quem passa a fome? Proletariado! Sempre desempregado? Proletariado! A caminho do crime? Proletariado! Quem tá fora da festa, Quem bate com testa No muro da grana, Quem mora no buraco, Quem carrega o saco, Quem é o culpado? Pra quem é a ...

A Voz Do Silêncio (Martha Medeiros)

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Paula Taitelbaum é uma poeta gaúcha que acaba de lançar seu segundo livro, Sem Vergonha, onde encontrei um poema com apenas dois versos que diz assim: "Pior do que uma voz que cala/É um silêncio que fala". Simples. Rápido. E quanta força. Imediatamente me veio a cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis, pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades. Um telefone mudo. Um e-mail que não chega. Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca. Silêncios que falam sobre desinteresse, esquecimento, recusas. Quantas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão. O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para acabar com o clima de tensão. Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala do fim. É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento. Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos, expõem suas queixas, jogam limpo. Já...

Os Leitores (Emanuel Galvão)

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Os tidos normais Leem com os olhos A paisagem pelas palavras Criadas Os cegos Leem com dedos E com bastante tato Percorrem os corpos das páginas De letras tatuadas Os surdos Leem as libras Os livros E os lábios Os emotivos Têm seus motivos Para lerem sinestesicamente Hão de concordar aos sábios Os malucos como eu Que a vida tanto inquieta No ofício de ser poeta Despretensiosamente Lê o que outro sente E os amantes Ao contrário das cartomantes Das quiromantes Leem além das cartas e das mãos O que não está oculto ao coração Algo que do corpo se revele Leem os desejos segredados... Em cada tipo de pele. Copyright © 2015 by Emanuel Galvão  All rights reserved. Elogio ao Desejo & Outras Palavras / Emanuel Galvão, Maceió - AL. - Quadrioffice Editora, Quatro Barras, PR, 2015. Pag. 36

É a Vida - That's Life (Kelly Gordon / Dean Kay) Tradução

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É a vida (é a vida), é o que todos dizem Você está no alto em abril, derrubado em maio Mas eu sei que mudarei essa história Quando eu voltar ao topo, voltar ao topo em junho Eu disse que é a vida (é a vida), e por mais estranho que pareça Algumas pessoas se divertem pisoteando sonhos Mas eu não deixo, deixo isso me deprimir Porque esse velho e belo mundo continua a girar Eu já fui um fantoche, um indigente, um pirata, um poeta, um peão e um rei Eu já estive por cima, por baixo, por dentro e por fora, e uma coisa eu sei Toda vez que me encontro derrotado no chão Eu sacudo a poeira e volto pra corrida É a vida (é a vida), isso eu não posso negar Eu pensei em desistir, amor, mas meu coração simplesmente não aceita E se eu não pensasse que valesse só uma tentativa Eu pularia direto em um grande pássaro e então voaria Eu já fui um fantoche, um indigente, um pirata, um poeta, um peão e um rei Eu já estive por cima, por baixo, por dentro e por fora, e uma coisa eu se...