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Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o...

Já Basta (Pedro "Pedrada" Caetano)

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Marielle – Mujer, de Joana Ziller "Memória de um tempo onde lutar Por seu direito é um defeito que mata"* Do preto de Nazaré até a preta da maré Vemos as marcas desta opressão O preconceito é aceito, só quem sofre vai saber Os flagelados com essa perseguição Eles podem até tentar a voz do povo calar Pela culatra o seu tiro foi em vão Como você vai dormir, com esse modo de agir Sua segurança vai vir da educação Oh, já basta! Oh, já basta! Memória de um tempo onde lutar Por seu direito é um defeito que mata Memória de um tempo onde lutar Por seu direito é um defeito que mata Dos humilhados e ofendidos, dos explorados e oprimidos Dos que lutam e querem a mudança Dos que nunca, perdem a esperança Sonho que se sonha junto muda realidade Por todos os nossos mártires da sociedade Pode parecer difícil termos capacidade De ver além do ouro e da prata Oh, já basta! Oh, já basta! Memória de um tempo onde lutar Por seu direito é um defeito que ma...

Teus Olhos Negros, Tua Tez Morena (Carlos Manuel Arita)

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Fascina-me a brancura da açucena - as flores alvas são as mais bonitas - mas me atraem com forças infinitas teus olhos negros, tua tez morena. Como as flores, também, casta e serena, aos desejos de amar, por certo, incitas, porém só vejo, em ânsias vãs, aflitas, teus olhos negros, tua tez morena e se adorar-te fosse a minha pena, arrastaria tudo, humildemente (a alma, livre da angústia que a condena), para ter-te afinal sempre presente, amaria em silêncio, eternamente, teus olhos negros ... tua tez morena. (Honduras 1912 - 1989)

Acolher (Claudia Lima)

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Dê abraços acolhedores sempre. Só quem já acolheu uma criança pequena no colo E sentiu dela um relaxamento de confiança, de entrega Sabe o que é acolher. Para acolher é necessário Estar pronto a receber, E não é fácil... Porque a troca de energia É via de mão dupla: vai e volta. Quem vai em busca do acolhimento Procura: calor, segurança, aconchego, entrega Chega em busca de um abraço, um colo... Por muitos motivos: dor, perda, decepção, estresse, coração partido e muito mais... Quem acolhe tenta ser esponja grande e macia, Cheia de energia positiva Para acolher, e acolher bem.  Copyright © 2019 by Claudia Lima All rights reserved.

Proletariado (Hélder Aragão - Dj Dolores)

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*(foto) Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! E quem é que apanha? Proletariado! É quem passa a fome? Proletariado! Sempre desempregado? Proletariado! A caminho do crime? Proletariado! Quem tá fora da festa, Quem bate com testa, No muro da grana, Quem mora no buraco, Quem carrega o saco, Quem é o culpado? Pra quem é a polícia? Pra quem é a polícia? Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! Justiça, que justiça? Se é sempre a mundiça entupindo as prisões! E quem é que apanha? Proletariado! É quem passa a fome? Proletariado! Sempre desempregado? Proletariado! A caminho do crime? Proletariado! Quem tá fora da festa, Quem bate com testa No muro da grana, Quem mora no buraco, Quem carrega o saco, Quem é o culpado? Pra quem é a ...

A Voz Do Silêncio (Martha Medeiros)

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Paula Taitelbaum é uma poeta gaúcha que acaba de lançar seu segundo livro, Sem Vergonha, onde encontrei um poema com apenas dois versos que diz assim: "Pior do que uma voz que cala/É um silêncio que fala". Simples. Rápido. E quanta força. Imediatamente me veio a cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis, pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades. Um telefone mudo. Um e-mail que não chega. Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca. Silêncios que falam sobre desinteresse, esquecimento, recusas. Quantas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão. O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para acabar com o clima de tensão. Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala do fim. É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento. Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos, expõem suas queixas, jogam limpo. Já...