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Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o

Invenção de Orfeu [Reino Mineral] (Jorge de Lima)

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  Sal-Gema extraído pela Braskem "mina 18" REINO MINERAL Quem te fez assim soturno quieto reino mineral, escondido chão noturno? Que bico rói o teu mal? Quem antes dos sete dias te argamassou em seu gral? Quem te apontou pra onde irias? Quem te confiou morte e guerra? Quem te deu ouro e agonias? Quem em teu seio de terra infundiu a destruição? Quem com lavas em ti berra? Quem te fez do céu o chão Quieto reino mineral? Quem te pôs tão taciturno? Que gênio fez por seu turno antes do mundo nascer: a criação do metal, a danação do poder?           Invenção de Orfeu, Canto Primeiro, XI

Jorge de Lima (Mírian Monte)

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  * Lá vem o poeta Jorge de Lima Acendendo os lampiões da minha verve Apagando qualquer impulso ensoberbe Pois não se concebe vaidade na rima Lá vem o modernista Jorge de Lima Secando lágrimas da pouca estima  Inventando Orfeu e seu Oceano íntimo  Tornando, um desgosto de amor, em algo ínfimo  Lá vem o político Jorge de Lima Com sua fábrica de anjos, a Mulher proletária,  Fazendo do mundo do menino impossível  Uma terra plausível e não imaginária Lá vem o médico Jorge de Lima  Dos Banguês, da Serra da Barriga Forjado na melhor escola de medicina Onde a pobreza, da riqueza, é amiga  Lá vem o enigmático Jorge de Lima Com seu cinematográfico Circo Místico Com Lily Braun, um picadeiro holístico  O sagrado e o profano num espetáculo artístico  Lá vem o imortal Jorge de Lima  Com sua União dos Palmares Sua Negra Fulô, seu Xangô, sua democracia  Lá vem o príncipe dos poetas com sua alagoana poesia Copyright © 2023 by Mírian Monte All rights reserved. *Reetrato de Jorge de Lima por Portinari

Novo Tempo (Ivan Lins)

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No novo tempo, apesar dos castigos Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer No novo tempo, apesar dos perigos Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver Pra que nossa esperança seja mais que a vingança Seja sempre um caminho que se deixa de herança No novo tempo, apesar dos castigos De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer No novo tempo, apesar dos perigos De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver Pra que nossa esperança seja mais que a vingança Seja sempre um caminho que se deixa de herança No novo tempo, apesar dos castigos Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer No novo tempo, apesar dos perigos A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça P

Radyr - Poeta Exemplar (Paulo Miranda Barreto)

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  (Para Radyr Gonçalves)   quebra cabeças de bagre! quebra cabeças de vento! diz uva,  vinho  e vinagre com o mesmo alumbramento!   transmuda alegria em mágoa e mágoa em contentamento! dá nó cego em pingo d’água sem pejo ou constrangimento!   e , com luvas de pelica dá murro em ponta de faca belisco em jaguatirica e sopapo em jararaca   é sábio .. . versa ‘pra burro’! (com calma ou de supetão) faz trovão virar sussurro! silêncio virar canção!   faz poema à beira-mar. . .   nas caatingas do sertão . . .  ao sol . . . à luz do luar ou em plena escuridão   louva à Deus e vexa o Cão! o Cabra é bom pra danar! sabe arrasar a razão ! esse é versado em versar !   tem dom pra vender e dar! (e bom coração também)! é um Poeta Exemplar. . . e ainda diz : O que há? Não sou melhor que ninguém!   PAULO MIRANDA BARRETO Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição CompartilhaIgual 4.0 Internacional -.

Estrelas Que Escrevem (Ludmilla Abreu)

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Não sei ser poetisa sem ter um céu Sem olhar pra lua cinza e Sol – letrar no meu papel   Não sei fazer poesias sem namorar as estrelas Pra ler as nuvens vazias eu preciso escrevê-las   Só sei ser poeta e travestir-me de Sol Sei esquentar na tela o que não queima o lençol   Eu só sei ser aluna das coisas que o céu reclama Escrevo, enquanto a Lua Faz noite em outra cama Copyright © 2022 by Ludmilla Abreu All rights reserved. Veja mais sobre Ludmilla Abreu   aqui