Postagens

Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

Imagem
  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o

O Voo do Albatroz (Dulce Aprígio Costa)

Imagem
  Olhando tudo do alto, Alca um voo o albatroz, Ganhando o céu no infinito, Deixando em terra todos nós. Adeus ao amor que morre, Adeus aos meus entes queridos, Adeus à vida terrena Os olharei dos campos floridos! Não sentirei mais tua alva pele Nem o toque de tua mão, Nosso amor deitará na fria campa, Sentirei gelo no meu coração. Nesta hora a morte cala-te E a escuridão aumenta, Um barco se distancia do porto, Enquanto a dor nos fragmenta. Lembranças nos acompanharão Da felicidade vivida, Todos na terra nos lembrarão Como e quanto foi nossa vida. Copiará cisne O nosso amor Após viver lindamente, Agonizante em dor Que luta, mas morre lentamente? Além do triste desterro, O que restará para nós? Voa, meu querido albatroz! Volta a casa do pai, Roga a ele por nós. - Dulces Lembraças DOCES SONHOS Contando Minhas Histórias  Pagina 103 - Dulce Aprigio Costa é membro da Academia Maceioence de Letras (AML) desde 14 de fevereiro de 2021 e menbro da honorária da Academia de Letras, Ar

Um Amor (Emanuel Galvão)

Imagem
              Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacientes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco.  A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado.            Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas.            São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir  é

Invenção de Orfeu UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] (Jorge de Lima)

Imagem
Catástrofe ambiental provocada pela Braskem [ [UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] Um monstro flui nesse poema feito de úmido sal-gema. A abóbada estreita mana a loucura cotidiana. Pra me salvar da loucura como sal-gema. Eis a cura. O ar imenso amadurece, a água nasce, a pedra cresce. Mas desde quando esse rio corre no leito vazio? Vede que arrasta cabeças, frontes sumidas, espessas. E são minhas as medusas, cabeças de estranhas musas. Mas nem tristeza e alegria cindem a noite, do dia. Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema.           Invenção de Orfeu, Canto Quarto, poema I

Invenção de Orfeu [Reino Mineral] (Jorge de Lima)

Imagem
  Sal-Gema extraído pela Braskem "mina 18" REINO MINERAL Quem te fez assim soturno quieto reino mineral, escondido chão noturno? Que bico rói o teu mal? Quem antes dos sete dias te argamassou em seu gral? Quem te apontou pra onde irias? Quem te confiou morte e guerra? Quem te deu ouro e agonias? Quem em teu seio de terra infundiu a destruição? Quem com lavas em ti berra? Quem te fez do céu o chão Quieto reino mineral? Quem te pôs tão taciturno? Que gênio fez por seu turno antes do mundo nascer: a criação do metal, a danação do poder?           Invenção de Orfeu, Canto Primeiro, XI

Jorge de Lima (Mírian Monte)

Imagem
  * Lá vem o poeta Jorge de Lima Acendendo os lampiões da minha verve Apagando qualquer impulso ensoberbe Pois não se concebe vaidade na rima Lá vem o modernista Jorge de Lima Secando lágrimas da pouca estima  Inventando Orfeu e seu Oceano íntimo  Tornando, um desgosto de amor, em algo ínfimo  Lá vem o político Jorge de Lima Com sua fábrica de anjos, a Mulher proletária,  Fazendo do mundo do menino impossível  Uma terra plausível e não imaginária Lá vem o médico Jorge de Lima  Dos Banguês, da Serra da Barriga Forjado na melhor escola de medicina Onde a pobreza, da riqueza, é amiga  Lá vem o enigmático Jorge de Lima Com seu cinematográfico Circo Místico Com Lily Braun, um picadeiro holístico  O sagrado e o profano num espetáculo artístico  Lá vem o imortal Jorge de Lima  Com sua União dos Palmares Sua Negra Fulô, seu Xangô, sua democracia  Lá vem o príncipe dos poetas com sua alagoana poesia Copyright © 2023 by Mírian Monte All rights reserved. *Reetrato de Jorge de Lima por Portinari